domingo, 20 de junho de 2010

CARTA DE RESCISÃO DE UM FUTURO CONTRATO DE TRABALHO OU PORQUE É QUE HÁ RELAÇÕES QUE ESTÃO CONDENADAS ANTES DE SE INAUGURAREM




Venho por este meio advertir que:

- eu não traço o meu destino num cronograma e não disseco com método as minhas acções de modo a conferir se estou a executar a vida conforme os objectivos definidos – eu nem sei o que me vai apetecer fazer amanhã

- eu tenho a convicção que se algo não funciona, a culpa é das pessoas e não dos processos…porque em última análise foi uma qualquer pessoa que estabeleceu esse processo - o processo não tem vida, nem é provido de livre arbítrio e mais depressa me convence que os astros não estavam alinhados do que me leva a acreditar que o erro foi do desgraçado do sistema

- eu não decido o que vou fazer com base em análises SWOT, e se alguém me perguntar o que é, direi: Surprising Wild Obscene Tentation ;-)

- eu não marco na agenda o dia em que vou dar sangue, faço-o quando me apetece e não porque fico isenta de pagar taxas moderadoras - mas para a próxima tentar-me-ei lembrar que tenho direito ao resto do dia de folga ;-) boa?

- eu não utilizo a técnica dos 5 porquês quando quero saber porque é que ajo de determinada forma, porque não me resumo em cinco respostas

- eu não meço as probabilidades de dar com os cornos na parede antes de me apaixonar por alguém, mas estou certa de que o seu casamento entrou num qualquer programa de probabilidades e que deve ser muito excitante e imprevisível

- eu não ponho os negócios acima da amizade e quando eles se misturam – que se foda! (eu nunca vou ser rica mesmo)

- eu acho que quem pensa que “movimento é desperdício de tempo” merecia ser paralítico (durante um mês, vá!)

- eu não quero dizer a alguém - que está a desabafar que o marido é uma besta, ou que soube hoje que tem cancro na mama, ou que chora porque ficou desempregada, ou que não pode pagar por débito directo porque o marido não pode saber que anda num ginásio – “lamento mas os seus 5 minutos terminaram! Sabe que eu tenho um objectivo de vendas este mês e para o cumprir tenho que diariamente fazer 192 minutos de trabalho comercial ou seja tenho que dedicar 960 minutos por semana, 40% do meu tempo de trabalho a tentar vender e você está-me a foder a estatística toda!”

- eu não me quero habituar a reduzir tudo a números, e médias e medianas e percentagens e a puta que pariu

- eu sou humilde e honesta e quando erro, assumo e peço desculpa – e agarro o touro pelos cornos e não tenho a mania que sei mais do que sei na realidade, e acredito que técnicas de motivação engenhosas são boas, mas se não forem sentidas funcionam a muito curto prazo

- eu nunca serei a pessoa indicada para trabalhar consigo, porque eu nunca vou evoluir nessa direcção

Devido a estas pequenas incompatibilidades venho demitir-me do meu futuro trabalho.

Ora, digam lá que não se prevêem dias fantásticos, devido a esta minha vontade imensa de abraçar este “novo” projecto?

Haja alegria! E uma garrafa de Casal Garcia!

terça-feira, 8 de junho de 2010

escritoterapia



eu gosto de escrever

a minha gente sabe

nunca não sou eu

quando por deferência, ou pavor a resistências à besta frontalidade, me contenho

esta nossa língua lusa, dá-se a deliciosos malabarismos que me permitem entornar verdades, mascaradas de fábulas, rábulas, imagens, afinidades e mais um sem-fim de formas destorcidas

socorro-me do sarcasmo, zombo da vida e das suas inconsistências ou dou disparos perfeitos disfarçados de bombas atómicas

ladro que estou irritada com a humanidade, quando na realidade é só para um alguém que esta neura se dispõe
vocifero que quero a vida, quando só esse ninguém me fica com todas as vontades

eu gosto de escrever porque não me deixa deslembrar

quem melhor do que eu para me importunar
as manias e as convicções

recuar e observar como sou tantas vezes desproporcionada,
como me enterneço com patetices,
como o que foi não volta a ser

afinal uma longa sessão de psicanálise
as ambições ficam aqui pintadas, sem prazos
garanto, assim, que até ao último suspiro
não serão fracassos