
Descanso inclui não: lavar, passar, arrumar, cozinhar, aquecer, fazer de lavado, dar um jeitinho, só uma passadela, desenrascar qualquer coisa que se coma, fazer uma jantarada, ir ao continente, pingo doce ou à mercearia comprar coentros, fazer contas, relatórios, análises de vendas, programar actividades, falar com fornecedores e outros senhores.
Descanso pressupõe não fazer a ponta dum corno!
O devaneio seria uma suite num qualquer hotel 6 estrelas, num qualquer lugar paradisíaco, alimentar-me em quaisquer restaurants (ler com pronúncia se faz favor) que venham no guia “Michelin”, passar os dias entre tratos de boniteza, apalpões aos costados e continuidades, para expurgar as marcas deixadas pelos maus tratos ao corpo e à mente, dados por um qualquer espécime masculino escultural (pode ser eunuco ou mesmo paneleiro– não estou a exigir escravidão sexual), imersão numa qualquer água cristalina com peixinhos de mil e duas cores e outras tantas ostentações que se encontram bem além da minha recatada existência.
Que se foda. Dava jeito, mas não é condição para patavina! Sendo assim lá comprei um pacote TI, para ter a certeza que não ficaria sem cheta a meio das vacances, estava tudo pago, pagadinho. Lá fomos para os Algarves, Clubhotel All Included, piscina, águas correntes quentes e frias, animação dia e noite, presuntol e tintol é o que o freguês quiser, afinal está tudo incluído!
Confesso que descansei sim senhora, não fiz nicles, nem sequer pus os cotos fora do recinto.
Mas alguns pormenores merecem a devida atenção e consequente apontamento.
Sendo assim é de reparar que eu frisei com a senhora da agência de viagens “eu não quero ir para Espanha, vou estar no hotel no meu merecido descanso, eventualmente irei à praia, não vou passear nem conhecer sítios novos, sendo assim prefiro Portugal pela comida, pelas praias, e porque falam a minha língua”- WRONG!
Parlapié: 80% falava a língua de nuestros hermanos e os outros 20% eram talvez igualmente divididos entre portugueses, ingleses, franceses, alemães, checoslovacos, japoneses (nããããã, já estou a inventar)
Morfes: variadíssimo buffet com saladas, ela era alface, cenoura, pimento, pepino, tomate e outras tantas cortadas em juliana que fica sempre bem, legumes cozidos, no forno, na chapa e gratinados, carnes, peixes, massas, arrozes vários, sobremesas vastíssimas, frutas, mousses, bolos de fatia e aos quadradinhos! Garanto-vos ao 2º dia a alface e o pimento tem exactamente o mesmo sabor assim como o tomate que sabe ao mesmo que os brócolos gratinados que já se confundem com o arroz ou será massa que até sabia a bacalhau, assim a puxar para o porco na chapa!
E era vê-los senhores a saltar de restaurante em restaurante, e a abarrotarem generosamente os pratos porque afinal It’s All Included! Pareciam porcos! Sem distinção: portugueses, espanhóis ou alemães, o que interessa é encher o bandulho!
Quanto às instalaciones nada a apontar. Excepto o facto que sempre me esquece de como são repugnantes os jacuzzis partilhados por mais ou menos 30 ou 403 pessoas simultaneamente (não eu!), o que significa alguma expectativa defraudada. Mas pormenor completamente ultrapassável pelo facto de ter um ginásio “quase” exclusivamente só para mim ;-) Piscinas porreiras, camas cumprem objectivo – ok.
And at Last but not Least: o serviço ao cliente, felizmente este também não era o genuíno serviço português. Desde o pessoal do restaurante, limpezas, recepção e principalmente “The Entertainement Team” – 5 estrelas! Uma simpatia e disponibilidade fora do comum e à qual nós não estamos habituados neste nosso país. Algo que me agradou sobejamente que ando sempre de tacha arreganhada, ter quem me retribua e ainda me estimule mais o sorriso merece com certeza o meu elogio, já para não falar no responsável pela animação uno belo ragazzo, que tivesse eu menos 10 anos, soubesse dançar e a dançarina principal tivesse grávida de um gajo qualquer sem escrúpulos – teriam sido umas férias tipo Dirty Dancing!